segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Brincar é fundamental

Por Érica de Campos


       Quem ao se lembrar da infância não sente saudades das brincadeiras, dos brinquedos, dos jogos em grupo, daquele mundo do faz-de-conta? Pois é, embora muitos não saibam, todo esse “universo de brincadeira” que vivenciamos na infância são importantíssimos para aprendermos a entender e dominar a realidade. A criança ao brincar está em pleno desenvolvimento motor, afetivo e intelectual. Brincando a criança busca expressar seus sentimentos e maneira de pensar, tenta compreender a visão do outro, busca a solução de problemas, desenvolve a consciência corporal, noção de espaço e tempo, além de favorecer a socialização, a brincadeira também trás à tona questões como as de lidar com o ganhar e o perder, aceitar e ser aceito, aprender a negociar com o outro, a cooperar, a decidir, criar ou seguir regras, imitar, imaginar, enfim, inconscientemente a criança vai “crescendo” junto com o seu corpo de uma maneira saudável e agradável. O que acontece é que brincando a aprendizagem ocorre naturalmente e quando a criança vivencia esse mundo intensamente ela constrói uma base sólida que será importante quando ela entrar em contato com aprendizagens mais complexas. Brincar de amarelinha, pular corda, pique-esconde, são exemplos simples de brincadeiras que não parecem, mas exigem da criança atitudes e raciocínios que desenvolvem entre outros aspectos, a linguagem, a coordenação motora, a percepção visual e espacial, a capacidade de memorizar, medir a distância e calcular a força, o equilíbrio, o ritmo, a contar os números, a cantar músicas, e tudo isso tranquilamente se divertindo com outras crianças.

      Assim deve acontecer com todas as infâncias, não é por acaso que o Princípio 7° da Declaração do Direito das Crianças diz “A criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se, visando os propósitos mesmos da sua educação; a sociedade e as autoridades públicas empenhar-se-ão em promover o gozo deste direito.”. Todos nós temos que assegurar esse direito das crianças, principalmente nas escolas de Educação Infantil, que a cada dia, infelizmente, vêm perdendo o espaço da brincadeira para uma intelectualização precoce das crianças. Muitas escolas de Educação Infantil, na maioria das vezes para agradar e suprir expectativas errôneas dos pais que acham que escola não é lugar de brincar, reduzem o tempo das atividades lúdicas para lançar conteúdos com uma complexidade maior antecipadamente para as crianças. O que resulta em crianças na Educação Infantil com mil obrigações: seus deveres de casa e de aula, inúmeras provas e testes. Elas já começam desde cedo a terem que ser as melhores, até em “vestibulinho” eu já ouvi falar! Sem contar com os pais que querem ocupar todo o tempo de seus filhos no intuito de “prepará-los” para o futuro e os colocam em todas as atividades possíveis: no balé, na natação, na aula de inglês, de informática, de judô, futebol, violão, jazz, ufa! Acreditem, existem crianças que não tem tempo para brincar! As de família rica não brincam porque são cheias de horários e obrigações a serem cumpridas. Por outro lado, as crianças de família pobre não brincam porque têm que trabalhar desde cedo para ajudar nas despesas de casa. De qualquer forma será sempre lamentável e triste ver uma criança que não sabe ou não pode brincar. É preciso reintroduzir o hábito da brincadeira na sociedade, nas escolas e famílias, e os profissionais de Educação Infantil podem e devem contribuir neste aspecto, a escola de Educação Infantil deve ser um lugar alegre, repleto de oportunidades para a criança aprender de maneira lúdica – além de muito amor e carinho, muita música, brincadeiras, brinquedos, jogos, sons, sensações, formas e cores que estimule sua imaginação, sua capacidade de criar e pensar sobre o mundo que se apresenta a sua volta. Brincar é importante, diria até fundamental. O brincar é a forma da criança aprender o mundo!

      Saber brincar, relaxar, ver a vida com alegria e leveza é importante até mesmo para nós adultos. É preciso refletir. Estamos vivendo no limite, estamos todos sempre muito aflitos e inseguros, para tudo tem que se tirar a maior nota ou não adianta. A vida está se resumindo numa bruta competitividade mecânica com uma única regra: ser o melhor de todos! E essa brincadeira não tem a menor graça, não estamos sabendo “brincar”, e se mal conseguimos criar novas regras para essa brincadeira melhorar e ficar divertida de verdade, não poderemos se quer mais imaginar um futuro melhor para nossas crianças.




*Texto de Érica de Campos - publicado em dezembro de 2010, na coluna Educação do jornal mensal A Voz do Lojista Meritiense - jornal de circulação no município de São João de Meriti/RJ.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Violência e escola – Poderia existir alguma relação?

Por Érica de Campos





É comum presenciarmos por parte dos alunos (em todos os níveis da educação), principalmente na rede pública de ensino, atitudes agressivas no ambiente escolar ou a violência propriamente dita contra a escola ou até mesmo contra as pessoas ali presentes. Mas isso pode ocorrer por quê? É possível que a atitude pedagógica de uma instituição escolar possa contribuir para o desenvolvimento do comportamento agressivo em seus alunos?
Bem, é notável que com o passar dos anos a violência vem crescendo nas classes desfavorecidas e de baixa escolaridade. A não inserção do indivíduo como ser pensante e formador de opinião coloca-o à margem da sociedade – o transforma em uma pessoa excluída. Em contrapartida, a escola, inserida nesta realidade, pode e deve buscar soluções para contribuir com a melhora desta situação. Ora, mas se acontece da escola não cumprir o seu papel principal que é o de formar e incluir o cidadão na sociedade, afirmando-o como ser atuante no mundo, que motivos terá este para valorizar e respeitar a escola – uma escola que o exclui, que o discrimina?







Muitas vezes não é perceptível, mas a violência parte primeiramente da escola contra os alunos. É preciso alertar e cobrar dos profissionais de educação uma maior atuação no tocante desta situação para que esta mude. Nem sempre o educador entende que está praticando determinada violência contra seus alunos, que pode se manifestar em pequenos gestos e atitudes ou até mesmo em constrangimentos. Mas é preciso se policiar, somos humanos – nossa sociedade é preconceituosa e é possível que cheguemos a reproduzir esse comportamento no ambiente escolar, segundo Paulo Freire “faz parte igualmente do pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade de ser humano e nega radicalmente a democracia.” - E é neste sentido que o educador deve direcionar seus atos. Essa violência contra o aluno é que na maioria das vezes gera a violência contra a escola: excluir um indivíduo de um direito que o tornaria um cidadão, pode culminar em uma futura marginalidade. O acesso real a educação e a cultura não deve ser privilégio de alguns, uma vez que a educação e a cultura, não só na teoria, deve ser para todos.
A escola nem sempre é atraente para o aluno, ignora-o ou simplesmente evita conhecer a realidade dele fazendo com que este se afaste, quando na verdade a escola deve ser um local que chame a atenção do aluno, produzindo um ambiente acolhedor e familiar. Esta falta de identificação obviamente também contribui para sua falta de interesse pela escola ou para promover uma atitude agressiva por parte desse indivíduo, que se manifesta de variadas maneiras, podendo ter como sinais desde um desentendimento bobo com colegas de turma ou funcionários à agressões mais sérias (verbais e ou físicas), depredação do espaço físico escolar, ou seja atitudes de desamor à instituição escolar gerando desrespeito às pessoas e ao ambiente pertencentes a este universo; chegando até mesmo à uma futura evasão escolar, questão esta preocupante que o poder público de nosso país ainda tenta solucionar.
Embora diversas campanhas e projetos visando diminuir essas situações na escola, infelizmente ainda são comuns, difícil mesmo é encontrar escolas que tenham e mantenham (pois por vezes faltam incentivos) uma atitude pedagógica que se preocupe com estas questões. Atitudes estas, dependendo do ponto de vista, até bem simples - que se baseiam em criar melhores oportunidades ao indivíduo de diálogo, diálogo este que obviamente irá facilitar o trabalho dos educadores, pois esse aluno se sentirá a vontade para expor seus medos e anseios, necessidades e opiniões: o seu mundo. Por sua vez a escola tendo o conhecimento necessário sobre este aluno para criar e recriar condições adequadas para ele se desenvolver de maneira que possa enxergar e entender, de uma vez por todas, a escola como um local de troca, de construção de conhecimento, de aprender que há direitos e deveres a serem cumpridos, de relacionamento interativo, um lugar que ele goste de estar e não um lugar de imposições e regras a serem obedecidas, o que sabemos há tempos (embora possa parecer menos trabalhoso para alguns) não resolve absolutamente nada.





*Leia Vigilância, punição e depredação escolar, de Áurea Guimarães. Neste livro ela analisa aquilo que foge das teias do poder do Estado, mas que, no final, acaba por alimentá-lo ainda mais. Ou seja o que Michel Foucault denomina de "micropoderes": pequenas instâncias discretas, quase invisíveis, que se revelam por meio de regulamentos, conselhos, avisos, proibições. Com base em pesquisa feita com alunos de escolas estaduais, em Campinas, a autora mostra alguns motivos que levavam os próprios alunos a danificar o prédio escolar. Nota-se que, sempre que ocorriam as depredações, a escola reforçava os mecanismos disciplinares que se encarregavam de ajustar comportamentos, neutralizando agitações, críticas e a organização espontânea dos alunos. É necessário ampliar o debate sobre até que ponto a escola simplesmente reflete o que acontece na sociedade, onde o poder disciplinar se apóia basicamente em técnicas de dominação, preparando os indivíduos para a observação passiva de normas, que são a expressão dos mecanismos de poder, controle, vigilância e punição.


*Texto de Érica de Campos - publicado em novembro de 2010, na coluna Educação do jornal mensal A Voz do Lojista Meritiense - jornal de circulação no município de São João de Meriti/RJ.


Ter ou não ter - eis a questão!

Por Érica de Campos




Posso até estar errada, mas creio que o ser humano pode vir a se tornar tão "coletivo" que por muitas vezes abre mão do SER para TER, ou melhor dizendo, para SER é preciso TER. Ter, somente para se sentir incluído, para fazer parte do grupo, para ter a "confortável" sensação de que faz parte do mundo. Infelizmente, o nosso mundinho capitalista, globalizado quer que todos nós, além de vestir, comer, falar a mesma língua, ter fé no mesmo credo, entre outras coisas mais, deseja que pensemos todos da mesma forma!


O consumismo nos torna seres incapazes de nos fazermos felizes e completos por nós mesmos, e acabamos por entregar a realização de nossa felicidade à satisfação das conquistas palpáveis. E não são só os adultos que estão impregnados com o vírus do consumismo. Atualmente é perceptível o aumento de crianças cada vez mais consumistas, sem nenhum limite - é preciso ter celulares (um só já não é mais suficiente!), roupas e calçados das marcas mais caras (geralmente iguais as de seus ídolos midiáticos), máquinas fotográficas digitais, laptops, mp3, 4, 5, 10, 1000! Pendrives, games, TV's, ipods, enfim, tudo de última geração! E se você não tiver, sinto muito! Você está fora da realidade, não está inserido no mundo! Quem será você?!



Mas não devemos ser radicais. O problema não está na tecnologia. A tecnologia é totalmente útil, tendo como função facilitar nossa vida, é fruto de inúmeros estudos, do esforço de muita gente! O que não poderia estar ocorrendo é essa banalização, é o não saber utilizar ou utilizar de forma burra, é esse excesso, é esse culto ao consumismo exacerbado quando vivemos em um mundo onde milhares de pessoas ainda morrem de fome!
Por essas e tantas outras razões, observo e penso muito sobre a forma que a Internet tem sido utilizada por crianças e adolescentes, pois estes, em processo de formação (em muitos sentidos) são bem mais vulneráveis à manipulações. Creio que ter acesso à Internet (que nos traz o mundo para você com um clique) não é tão simples quanto parece, é preciso orientação, pois se as mídias mais simples (rádio, televisão, jornal, revista, etc.) podem induzir tanto e de diversas formas, imaginem a Internet, tão mais sedutora! A Internet, esta filha mais famosa da tecnologia recente e que se tornou uma forma de mídia, aliás, multimídia, tem um “poder” muito maior de convencimento, e a  cultura do TER em detrimento do SER pode ser amplamente difundida sem ao menos percebermos.
O acesso crescente à Internet cresce em nosso país. E o interessante seria usarmos este fato, ou seja, a própria Internet, para ir contra essa cultura do consumir por consumir. A maioria das pessoas simplesmente a utilizam, por mero entretenimento inútil (não que eu seja contra o entretenimento, aliás todos precisamos!), e por muitas vezes, os próprios pais introduzem seus filhos nesse mundo colorido e vazio sem nenhuma orientação. Nenhum pai ou mãe dá comida estragada à seus filhos, o mesmo deveria ser feito ao colocarem seus filhos frente à Internet: o ideal seria que os pais pesquisassem e selecionassem as páginas para seus filhos, uma vez que existem inúmeras de qualidade dedicadas à crianças e adolescentes, dedicadas à educação. Talvez, esteja nas mãos de alguns educadores mais conscientes promover uma mudança de hábitos na utilização da Internet, não que seja esta exclusiva responsabilidade deles! Mas, atualmente, não se pode mais pensar em educação sem pensar na utilização das tecnologias para auxiliá-la. Penso que é dever de todo e qualquer educador buscar e produzir fontes de conhecimento que façam com que os educandos criem seu próprio pensamento crítico em relação ao que é colocado para ele, não é possível que se aceite tudo sem pensar antes sobre o porquê e a necessidade das coisas. A Internet e seus bilhões de informações instantâneas está presente no cotidiano, não se pode mais negar o fato. E é preciso ensinar aos nossos educandos à usar este recurso de maneira mais responsável e útil. Ensiná-los à filtrarem o que eles julgam ser benéfico e ou necessário ou não, segundo o que eles são e vivem, segundo a realidade do mundo; mostrar todas as hipóteses e possibilidades, pontos de vistas e a partir daí, pensar, analisar e chegar a uma conclusão, ainda que não seja definitiva (pois nada é definitivo), mas chegar a esta com seus méritos sem ser passivamente influenciado. E isso (acreditem!) é totalmente possível na Internet, onde pessoas isentas de compromisso com grandes corporações, deixam suas idéias expostas para qualquer um acessar, onde qualquer pessoa pode participar com inúmeros pontos de vistas diferentes. É fato que existe muita coisa de má qualidade, mas em contrapartida, há muita coisa de excelente qualidade também. Por isso torno a repetir, o segredo está na orientação e criação de maneiras diversas de ensinar ao nosso educando a buscar e filtrar as informações da maneira mais útil possível. Utopia? Depende. Que seja um único educador, que ao ler este texto tente criar formas de mostrar aos seus educandos que é possível pensar por si próprio, que a diversidade faz parte da vida, mostrando que é possível despertar o pensamento crítico; e se de seus alunos apenas um compreender e passar a construir e viver por suas próprias opiniões, querer SER ao invés de TER, nossa! Serei alguém muito feliz no que me propus a fazer: ser uma EDUCADORA, antes de qualquer coisa.




* Assista o documentário brasileiro Criança, a alma do negócio da cineasta Estela Renner, que através de gravações de depoimentos de crianças e seus responsáveis, faz uma reflexão sobre como as crianças estão se tornando cada vez mais consumistas. O documentário pode ser assistido na íntegra no site do Instituto Alana, que mantém o Projeto Criança e Consumo com notícias e informações sobre a temática, além uma biblioteca vasta sobre o assunto.



Primeira parte do documentário brasileiro Criança, a alma do negócio da cineasta Estela Renner, que está disponível no YouTube dividido em seis partes.
Assista e DIVULGU!



*Texto de Érica de Campos - publicado em outubro de 2010, na coluna Educação do jornal mensal A Voz do Lojista Meritiense - jornal de circulação no município de São João de Meriti/RJ.

sábado, 30 de outubro de 2010

Pela valorização da Educação Infantil

Por Érica de Campos






Infelizmente, ainda é comum presenciarmos pessoas desvalorizando a Educação Infantil, vendo as creches e pré-escolas como simples depósitos de crianças; até mesmo profissionais da educação mantém o mito de que a Educação Infantil é desnecessária e que tudo não passa de uma grande brincadeira. Não é bem assim.
Embora a Educação Infantil há mais de um século tenha sido entendida como cuidado e educação extra domiciliar, foi reconhecida na Constituição Federal de 1988, destacada no Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e reafirmada a poucos anos como direito da criança, das famílias e também como dever do Estado, estabelecida pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) de 1996, como “primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança [...], em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (título V, capítulo II, seção II, art. 29). Ou seja, a Educação Infantil é a etapa inicial da Educação Básica e integrante dos sistemas de ensino. Já passou do tempo de acharmos que a Educação Infantil não tem a sua importância. Pelo contrário, por ser a base de toda a educação, sua importância é maior ainda! Todo o desenvolvimento posterior da criança irá refletir suas vivências, seu aprendizado na Educação Infantil.
Hoje, a Educação Infantil pode ser dividida basicamente em duas categorias: creches ou entidades equivalentes, que atendem à crianças na faixa etária de 0 a 3 anos, e pré-escolas, que atendem a crianças na faixa etária de 4 e 5 anos, uma vez que, o Projeto de Lei nº 144/2005, aprovado pelo Senado em  2006, estabelece a duração mínima de 9 anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 anos de idade. A matrícula da criança na Educação Infantil não é obrigatória, sendo uma opção da família, porém, é direito da criança e dever do Estado assegurar que esta educação seja mantida e tenha qualidade.

Não é obrigatória, mas todo mundo sabe (ou deveria saber) que a Educação Infantil possui um papel fundamental no processo de formação do sujeito. Atualmente a sua importância vem sendo cada vez mais reconhecida, fazendo com que a sociedade cada vez mais exija dos poderes públicos e também contribua para que esta evolua, pois depende também de uma Educação Infantil de qualidade, o futuro de nossas crianças, de nosso país, de nosso planeta!
Mas ainda assim, mães e pais, muitas vezes por ignorar a importância da Educação Infantil, colocam seus filhos em creches e pré-escolas, com o simples intuito de “guardar” seus filhos para que possam trabalhar sossegados, não compreendendo que aquelas horas diárias que seus filhos ficarão na “escolinha” são as horas que, provavelmente, irão determinar o tipo de adulto que ele irá se tornar. Por isso desvalorizam a Educação Infantil e acham que os profissionais que estão ali estão apenas brincando com seus filhos. Brincando também, pois brincar é um direito da criança! Cuidando, conhecendo e tentando compreender as particularidades de cada uma delas, desenvolvendo mecanismos que possam ajudar a construir a identidade desta criança, pois a Educação Infantil tem como finalidade cuidar para que a criança tenha o seu desenvolvimento integral, não só no aspecto físico, mas no aspecto intelectual, psicológico e social.
Hoje há inúmeras leis que visam proteger a infância garantindo os direitos da criança, como já foi citado antes, tornando não só obrigação do poder público, mas também da família e da sociedade em geral garantir que estas leis sejam cumpridas. Além disso, é crescente o surgimento de pesquisas, nas áreas médicas e educacionais, sobre desenvolvimento do homem, a formação de sua personalidade, a construção da inteligência e aprendizagem, mostrando o quanto é importante e necessário o acompanhamento e a assistência na infância. Crescente também é o número de estudiosos na área de produção das culturas infantis, história da infância e pedagogia da infância mostrando como é vasta e até complexa a temática da infância, fundamental para a formação do indivíduo.
Ou seja, a Educação Infantil está diretamente ligada a todos estes movimentos, que só tendem a crescer. Participar disso é muito importante para o desenvolvimento de uma sociedade melhor. Hoje, mais do que nunca, sabe-se que uma criança que teve acesso à Educação Infantil de qualidade, terá um desempenho melhor no Ensino Fundamental, que por sua vez proporcionará um melhor desempenho no Ensino Médio e que por sua vez garantirá o sucesso na vida acadêmica. É tudo uma questão de lógica, uma construção firme e resistente é aquela que tem a base sólida. Portanto, convoco a todos: faça parte desse movimento também, valorize a Educação Infantil! 



*Texto de Érica de Campos - publicado em setembro de 2010, na Coluna Educação do jornal mensal A Voz do Lojista Meritiense - Jornal de circulação no município de São João de Meriti / RJ.


* Imagens: Logotipo do PROINFANTIL - curso promovido pelo MEC em parceria com os municípios com intuito de valorizar e qualificar os profissionais de Educação Infantil

domingo, 24 de outubro de 2010

Bullying – O que é isso?!

Por Érica de Campos




Talvez você não saiba ainda o que é Bullying, mas provavelmente já ouviu esta expressão. Bullying vem do substantivo da língua inglesa bully, que significa uma pessoa que se utiliza de poder ou de força para ameaçar ou ferir as mais frágeis. Em português, essa palavra pode ser interpretada como assédio moral ou físico ocorrido especialmente no ambiente escolar, isso não quer dizer que o bullying ocorra somente na escola, ele pode ocorrer no trabalho, no condomínio, num time de futebol, na academia, enfim, em qualquer lugar ou grupo social.
O bullying se identifica no ato de “sacanear” o colega, seja colocando apelidos, praticando ofensas, zoando, discriminando-o de várias formas, humilhando, excluindo, perseguindo, aterrorizando, intimidando verbalmente ou chegando a agressões físicas - batendo, empurrando, ferindo, quebrando ou roubando pertences, etc. Ou seja, há uma infinidade de atos praticados, na maioria das vezes por crianças e adolescentes no ambiente escolar, que infelizmente, muitas vezes são consideradas brincadeiras comuns. Pode até ser, por vezes, consideradas brincadeiras, mas nem sempre inocentes. Estas brincadeiras podem ter sérias conseqüências, podem desencadear uma série de fatores negativos para quem a sofre, por exemplo, simples apelidos repetidos inúmeras vezes, com intenção discriminatória, pode fazer com que uma pessoa se sinta de tal forma humilhada e marcada que demore uma vida inteira para superar este fator e por vezes pode até acontecer de não superá-lo.
Existem inúmeras maneiras de agressões, que variam dos, aparentemente, inofensivos apelidos aos palavrões, da humilhação à difamação, de um bate-boca passando pelas pancadas às ameaças, e como uma “bola de neve”, o bullying cresce e toma conta de todo ambiente escolar e por muitas vezes, pode chegar a atingir ambientes fora da escola, comprometendo a todos – alunos, professores, diretores e família - uma vez que todos participam direta ou indiretamente.
Vários personagens podem integrar este “drama”: Os “personagens principais” são os autores (os que praticam o bullying), os alvos (os que sofrem o bullying) e os autores-alvos (que ficam mudando de posição, ora são autores, ora são alvos). E também há os “coadjuvantes”, que são as testemunhas (os que acham graça de tudo e gostam de ver o sofrimento dos alvos, ou que mesmo achando a prática errada ou injusta, se calam com medo de virarem alvos também).





O fato é que o problema é muito sério e não deve ser ignorado. Em nosso país, nos últimos anos, vem aumentando a preocupação sobre este assunto; a mídia já aborda este tema com mais freqüência, pesquisas e campanhas tem sido feitas afim de entender e promover novas políticas para combater o bullying, principalmente no ambiente escolar. É preciso que a sociedade como um todo participe, pois o bullying só poderá ser extinto ou ao menos atenuado com a participação da escola - diretores, professores e funcionários – e da família – alunos e responsáveis. É extremamente necessário que as escolas criem novos meios (se possível com a participação da família) para diminuir a prática do bullying, que por sua vez tem diversas causas. Não adianta penalizar quem pratica o bullying, pois este também precisa de ajuda - muitas vezes tudo isso pode ser apenas a reprodução de um comportamento agressivo que é recebido dentro de seu próprio lar. É preciso encarar o problema, criando novas maneiras de valorização e incentivo às diferenças, fechando as portas para qualquer tipo de preconceito, tanto na escola, como em casa também.
O ambiente escolar não pode nem deve se tornar palco para atrações de angústias e sofrimentos, não devemos nos omitir e passar a ver tudo como se fosse brincadeira para poupar trabalho. Ou será que assistiremos imóveis a escola deixando de ser um espaço de criação e produção de conhecimento, um local de socialização pacifico, para se transformar em um local de produção e reprodução de confusões e conflitos, um lugar sem paz? Em casa ou na escola, educar dá trabalho! Educar nunca foi nem nunca será simples.









*Link para o blog da iniciativa criativa da Cia. de Atores de Mar para combater o bullying:
*Link para uma abordagem interessante sobre o tema em uma site para o público adolescente: 



* Texto de Érica de Campos - publicado em agosto de 2010, na Coluna Educação do jornal mensal A Voz do Lojista Meritiense - Jornal de circulação no município de São João de Meriti / RJ.

“É desde de menino que se torce o pepino”

Por Érica de Campos






Não é de hoje que a questão do hábito e gosto pela leitura não é muito popular entre os brasileiros. Mas se a maioria das pessoas gira em torno de práticas comuns, porque o hábito da leitura, o gosto por livros, pela literatura, também não se torna uma prática comum a todos?
Já dizia e diz o ditado: “É desde de menino que se torce o pepino”. Pode parecer bobeira, mas aí está a sabedoria popular nos trazendo luz à questão - É na infância que se deve iniciar o contato com os livros, com as palavras, pois, antes mesmo de aprender a “ler as letras”, já somos capazes de ler as imagens, ler o mundo e seus significados, o que, cá entre nós,  hoje em dia é imprensedível para aqueles que pretendem buscar o seu lugar ao sol.
Não subestimemos nossas crianças, e muito menos deixemos a tarefa de ensinar nossos filhos a ler para a escola. Quando chegar o momento, a escola obviamente terá que desempenhar o seu papel quanto a este assunto, mas é também dever da família mostrar à criança este universo, que vai muito mais além do bê-á-bá, que não julgo desnecessário, pois é preciso entender os códigos da língua, porém, há diferença entre juntar letras e o ato de ler.
O ato de ler está baseado no exercício, na articulação do pensar e agir, enquanto o juntar letras restringe-se apenas na decodificação e repetição mecânica de símbolos, sem nenhum tipo de interpretação, sem análise crítica, ou seja, sem entendimento completo.
A família desempenha um papel importante na vida da criança, e deve promover o ato de ler para que, ao ser incorporado no ambiente de casa (que é a sua realidade) construa seu gosto pessoal pela leitura, inclusive, esta prática não só estará contribuindo para que esta criança desenvolva a capacidade de leitura e análise critica do mundo, como também, antes do que se imagina, facilitará o seu processo de alfabetização. Ou seja, esse gosto pelo ato de ler pode sim, ser transmitido dentro de casa, e deverá se tornar futuramente uma parceria entre família e escola.
Não estou aqui dizendo que as famílias agora devem rechear a infância de seus filhos com dicionários e enciclopédias.  Este universo do qual estou falando, é muito mais simples do que se possa imaginar, pois poderia estar agregado ao nosso cotidiano como algo comum, aliás, já esteve há tempos atrás, mesmo sem querer, na época da vovozinha, mas em meio a essa nossa vidinha moderna que temos adotado, mediante as escolhas que achamos que somos obrigados a fazer, deixamos de lado o que supúnhamos mais banal – o convívio e a real preocupação com a criação de nossos filhos. Simples assim. Falo, por exemplo, do contato que se dá seja através das canções de ninar ou das histórias de família contadas às crianças, pois esses são momentos que auxiliam no incentivo a leitura, criando um ambiente de participação e curiosidade da criança, criando um vínculo mais forte ainda entre pais e filhos. Seja em um incentivo da mãe, ao criar oportunidades de contato com as palavras, com os nomes das coisas, pelas ilustrações de livros, cantigas de roda, histórias contadas, brincadeiras de faz-de-conta ou em um incentivo do pai auxiliando no processo de alfabetização, na invenção de uma história através de desenhos, no ato de recontar a história de um filme, enfim, são pequenas ações cotidianas que podem incluir e conduzir o incentivo à leitura.
Ninguém pode gostar do que não conhece. Assim também acontece com o livro – se ninguém assume o papel de apresentar o livro à criança, sabendo ela ler ou não, como poderá esta se interessar e se render aos encantos do universo dessa linguagem maravilhosa que o livro e a literatura possuem? Logo, o ideal seria que a família desse início a este contato entre a criança e a literatura, habituando-a desde a mais tenra idade a ouvir as mais diversas histórias nas mais diversas situações no cotidiano de sua casa, ou seja, tudo está em ter a chance de conhecer a grande magia que o livro proporciona, e quanto mais cedo isso ocorrer melhor será – a criança, antes mesmo de freqüentar a escola, vai criar o interesse pela leitura, vai querer buscar no livro e encontrar uma fonte de alegria e prazer. Esse ato, geralmente, ultrapassa os limites de casa, e como se fosse uma cadeia de sequências, leva a criança a procurar e criar o hábito de ler e de visitar livrarias, bibliotecas, feiras de livros infantis, entre outros. Sendo muito fácil a compreensão de tal fenômeno: se existe em casa um ambiente favorável para leitura, familiares que preservam este hábito, as crianças, por sua vez, procurarão imitá-los.


Os pais podem iniciar este processo contando histórias para os filhos dormirem, incentivá-los a criar e contar histórias em casa (na presença de outras crianças como irmãos, amigos ou primos fica mais fácil ainda), presenteá-los com livros, passear em feiras literárias, assim haverá sempre uma troca de conhecimentos e se torna possível criar um estímulo para que as crianças desenvolvam um real prazer pela leitura, pois, até mesmo crescendo em ambientes repletos de livros, ainda assim, não adiantaria nada se o contato com o livro não acontecesse de forma natural e prazerosa. Assim, se cada um de nós incentivarmos o contato com os livros, nossas crianças - futuros adultos - começarão a se interessar de verdade pela leitura.



Algumas vantagens para quem desenvolve e mantêm o hábito da leitura:





  • Amplia o vocabulário;
  • Facilita a escrita;
  • Estimula a criatividade e a imaginação;
  • Aumenta a capacidade de desenvolver boas idéias;
  • Acumula conhecimento e experiência;
  • Ajuda no entendimento do seu mundo e do mundo à sua volta;
  • Ajuda a conhecer e respeitar outras culturas e modos de vida, diminuindo as possibilidades do   desenvolvimento de preconceitos.









* Texto de Érica de Campos - publicado em julho de 2010, na Coluna Educação do jornal mensal A Voz do Lojista Meritiense - Jornal de circulação no município de São João de Meriti / RJ.
* Imagens do cartunista e escritor Ziraldo